quinta-feira, 24 de maio de 2012

Apoio social a adolescentes grávidas ainda é frágil


Pesquisa mostra que a mãe da adolescente é a principal fonte de apoio e que amigos costumam se afastar.

Estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em “Enfermagem em Saúde Pública”da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) analisou a rede e o apoio social disponíveis às adolescentes em período de maternidade. A terapeuta ocupacional Iara Falleiros Braga acompanhou vinte jovens residentes do bairro Jardim Aeroporto que vivenciaram a maternidade. Elas tinham  entre 14 e 19 anos e se utilizavam da Unidade Básica de Saúde (UBS) da região, que fica em um bairro periférico de Ribeirão Preto. “Busquei compreender a composição da rede social e do apoio social, principalmente no contexto da família, amigos, trabalho e estudos e com a comunidade. A importância de entender a rede social é conseguir aprimorá-la e dar mais assistência às adolescentes que se tornam mães”, diz Iara.
O início do interesse da pesquisadora pelo tema se deu quando ela ingressou no Núcleo de Estudo em Ensino e Pesquisa do Programa de Assistência Primária de Saúde Escolar, o PROASE. O núcleo é coordenado pelas professoras Marta Angélica Iossi Silva — orientadora da dissertação — e Maria das Graças Bonfim de Carvalho, e é um trabalho de extensão à comunidade de Ribeirão Preto, desenvolvido pela EERP desde 1985.
Em um levantamento feito sobre a quantidade de nascimentos e da quantidade de adolescentes que tiveram filhos no ano de 2010, a UBS do Jardim Aeroporto foi a que apresentou a maior proporção de jovens mães. “Diante da relevância da temática, eu resolvi chegar até essas adolescentes e ver como se constituíam suas redes sociais durante a maternidade”.
Mapa
Sempre acompanhada de uma agente de saúde ou de uma enfermeira da unidade, Iara foi até as casas das meninas para explicar-lhes o projeto e convidá-las a participarem. Ela apresentou o Mapa das Redes, desenvolvido por um pesquisador argentino Carlos Sluzki e utilizado por Iara para definir a rede de influências exercida sobre as meninas. “O mapa é composto por quatro quadrantes: família, trabalho e estudo, amigos e comunidade. Dentro desses grupos, elas podiam definir as pessoas que consideravam ter relações íntimas, relações sociais, com contato social ou apenas uma relação entre conhecidos”, explica.
Ficou claro que a figura da mãe é a mais presente no quadrante da família, a principal fonte de apoio social. A rede dos amigos se mostrou mais fragilizada e dos estudos e do trabalho mais ainda. “Pouquíssimas adolescentes disseram ter recebido apoio nesse quadrante. E algumas disseram ter recebido apoio no início, mas que depois do nascimento da criança ocorreu um afastamento natural”. No quadrante da comunidade, algumas das fontes de apoio foram igrejas e a própria assistência social.
O que Iara destaca é que todas as adolescentes tiveram acesso ao pré-natal e aos exames indispensáveis às grávidas, como ultrassom e coleta de sangue regular.
“No quadrante da família, é possível dizer que elas receberam bastante apoio, inclusive financeiro. Já no quadrante da saúde, apesar do acesso aos cuidados médicos, achamos que poderia ter acontecido uma ligação mais forte dos profissionais com as adolescentes, como a criação de um grupo com explicações preventivas”, observa Iara. O contato entre as adolescentes poderia ser benéfico nesse período de mudanças e poderia ser realizado na unidade de saúde, só é preciso que haja iniciativa para a criação. “A maioria delas disse que, depois do nascimento da criança, as amigas se distanciaram. Então existe a necessidade da criação de novos vínculos de amizade.”
Além disso, falta orientação. Muitas não sabem a forma adequada de exigir seus direitos, como a pensão alimentícia obrigatória dos pais ou o direito à creche, que é de difícil acesso na região. Íris (nome fictício), de 19 anos, disse que demorou muito tempo para conseguir o bolsa família. “Demorou seis meses para liberar (o bolsa família) (…) Agora eu fui atrás, quando fiquei grávida. Eles falaram que minha pasta não tinha sido enviada”, disse ela, que já é mãe de dois filhos, à pesquisadora.
A pesquisa aponta uma falta de articulação na rede social, que poderia estar mais fortalecida. Ela tinha de agir no sentido de promover apoio, contribuindo para o acesso aos serviços de fato, garantindo a efetivação dos direitos e potencializando a qualidade de vida das adolescentes.
Fonte: Guia do bebê

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